O trabalho farmacêutico é essencial na área da saúde, no qual exerce a função de planejar, organizar e executar suas funções em prol da sociedade. É uma profissão que exige um cuidado especial, humanizado e atento a cada olhar que é submetido em seus atendimentos. O Minuto Farmácia convida você, apaixonado pela área farmacêutica, a conferir a entrevista de extrema importância social, realizada em um bate papo com o estudante farmacêutico Avanildo Neto.

Neto trabalha em uma Unidade Básica de Saúde - Lote 92, na região Metropolitana de Recife, e está no 8º período da faculdade, no qual faz também pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica. Com apenas 25 anos, Neto já está em busca de seu aprimoramento profissional. Além de realizar as atividades diárias de sua profissão, ele trabalha com um método inovador aplicado para pessoas com deficiência visual e outros tipos. Essa técnica se desenvolveu por meio da sua criatividade e força de vontade em querer ajudar pessoas que enfrenta dificuldades em relação ao uso de medicamentos. Confira a matéria a seguir!

Trabalho farmacêutico:

Avanildo, quais cuidados são necessários na hora de planejar e medicar os pacientes?

R: O cuidado primordial é o conhecimento. Conhecer o paciente e suas limitações é o básico para se iniciar um planejamento para, assim, medicar um paciente, tudo isso junto com o conhecimento da farmacologia e suas aplicações, entendendo até onde o farmacêutico clínico pode ir e se é necessário encaminhar para outro profissional. Sempre com uma equipe multidisciplinar, em que juntos trazem consigo um maior alcance em salvar vidas e auxiliar na melhora. Tudo isso checando sempre os dados do paciente, as medicações e o seu prontuário.

E o que fazer em casos de pessoas que se auto medicam?

R: É imprescindível levar a informação correta para essas pessoas. Muitas vezes o fato de se automedicar vem das informações de terceiros e não do próprio profissional de saúde. As pessoas passam as informações, acrescentam e não se importam com os malefícios que isso pode causar. Esquecem que o que é bom para uma pessoa pode não ser bom para outra, independente do grau de parentesco e que, de fato, cada organismo é diferente e cada pessoa é única. Neste caso, as informações corretas, os exemplos demonstrados, junto com o domínio e a certeza que um profissional de saúde tem sobre o assunto, pode trazer a realidade das consequências de uma automedicação, mudando assim esse pensamento.

Quais são os riscos que podem ocorrer com a automedicação?

R: Existem inúmeros riscos que podem ser fatais quanto a automedicação. O que diferencia o medicamento para o veneno é a dose, e as pessoas não tem tamanha noção do risco que corre quando comete o ato de se automedicar. Estamos cansados de ver desde a resistência bacteriana até a intoxicação, alergias, agravamento da doença e até a morte! Vale ressaltar que, atualmente, o número de pessoas que são internadas e atendidas em emergência por se automedicar chega a ultrapassar até três vezes o número de pessoas que são mordidas ou picadas por animais peçonhentos.


A medicação pode influenciar tanto em um bom tratamento quanto em um mal resultado?

R: Sim. Uma vez que o paciente não segue o modelo que foi proposto ao seu tratamento ele poderá ter um mal resultado. Muitos pacientes que recebo atualmente se queixam de a medicação não surtir efeito algum em seu organismo, mas quando lhes é perguntado como estão administrando a medicação consigo entender que o erro não é do medicamento, e sim, do paciente que não está seguindo o que lhe foi proposto na consulta.

Em sua visão, quais são os maiores desafios (empecilhos) que o profissional farmacêutico tem enfrentado?

R: O farmacêutico tem conseguido avançar bastante nos dias atuais quanto a sua atuação no mercado. Porém, ainda falta um longo caminho para ser percorrido até chegarmos em um patamar confortável, pois acredito que ainda existe uma grande falta de credibilidade ao profissional farmacêutico nos dias atuais. O farmacêutico é um profissional completo, estudamos desde farmacologia até administração farmacêutica, temos um conhecimento muito abrangente e infelizmente não somos vistos como deveríamos. Mas acredito que isso irá mudar, já que a nova geração de farmacêuticos está surgindo com força total. É uma questão de tempo.

Sobre sua rotina:

Avanildo, em relação a forma de trabalhar, criando desenhos e figuras com pinturas em copos para pacientes cegos, e outras deficiências, gostaria de saber como surgiu essa ideia?

R: Essa ideia surgiu através da necessidade dos pacientes que atendo atualmente. São pessoas simples de uma área rural, onde existe uma dificuldade muito grande em determinados assuntos. Eu, como profissional da saúde, tive que me adaptar a eles e tentar criar algo que me desse êxito na adesão da terapia farmacológica. Estava cansado de ver o sofrimento deles, e não poderia me conformar com aquela situação. Foi aí que através de métodos simples como: Desenhos em copos descartáveis, figuras nas embalagens de medicação, cores para cada comprimido especifico, algumas tiras para administração de xaropes, explicações diversas sobre os remédios e também cortes padronizados em cada blister de medicação para cegos que tudo iniciou. E graças a Deus, deu tudo muito certo!

Qual a importância que esse método de trabalho pode ter na vida destas pessoas?

R: A importância de uma qualidade de vida melhor. Muitos pacientes tomam medicações em uso contínuo, e esses apresentaram melhoras significativas no tratamento, na sua rotina diária e até no sono. Muitos pacientes fazem uso constante de medicamentos psicotrópicos e não conseguem êxito em dormir e se sentir bem, mesmo tomando as medicações. Os pacientes que fazem uso de medicamento de pressão contínuo apresentaram melhoras no controle da mesma e os que estavam tomando antibióticos foram curados das infecções. E tudo isso tem um impacto muito grande na vida de cada um. A importância do cuidado, do olho a olho, do estarmos juntos, fazem toda a diferença na vida de cada pessoa e eu me sinto muito orgulhoso de tudo isso.

Você já pensou em transformar esse método em projeto para que possa se estender por todo o Brasil? E, caso sim, pretende criar parcerias com outros municípios?

R: Seria um sonho! Seriam os farmacêuticos sem fronteiras. Gostaria muito em poder levar esse projeto adiante e por todo o Brasil, principalmente em lugares que são esquecidos ou pouco habitados por profissionais da saúde. Lugares assim são muito carentes. Seria um sonho criar parcerias com outros municípios e estados. Eu recebo muitas mensagens de muitos estudantes que se interessam e apoiam essa atitude. Acredito que se cada um fizer um pouco que for, já irá fazer uma diferença muito grande na vida de muitas pessoas. Eu nasci para isso, e se alguém quiser entrar em contato para parcerias, estou à disposição, sempre! Vamos nos unir e levar esperança, força e uma adesão farmacológica com sucesso para as pessoas que necessitam de dias melhores. Estou à disposição, sempre.

Além deste método que utiliza, na sua visão como profissional, o que poderia ser acrescentado dentro da área farmacêutica para a criação de novas ações que possam engradecer o trabalho do profissional e atender de forma eficaz a população?

R: Eu costumo dizer que o farmacêutico é um profissional completo. Que dentro de cada um, possui um mundo totalmente criativo, inteligente, farmacológico etc. Acredito que o profissional farmacêutico deve ser um pouco mais explorado pela população, pois a população possui um profissional fantástico ao seu dispor e muitas vezes não faz uso do mesmo. A humanização, o cuidado com os pacientes e o olho no olho, também poderia ser mais explorado nos dias atuais e no mercado farmacêutico. Isso faz toda a diferença em um mundo tão agitado e com atuações tão remotas na qual vivemos.

Conte um pouco de sua experiência como profissional e como é trabalhar para pessoas com deficiências.

R: Como profissional, para mim é muito gratificante ajudar alguém e ter um papel importante perante a sociedade, é algo que dinheiro nenhum do mundo compra. A felicidade de alguém com algo tão simples, e de grande impacto positivo em sua vida, me faz ver que estou no caminho certo. Dinheiro não é tudo, tudo é o amor ao próximo. Trabalhar com pessoas com deficiência é sempre muito limitado, temos que nos adaptar a cada um de forma única e especial, para assim conseguir desenvolver métodos eficazes.

No início, para mim foi muito desafiador, afinal eu estava fazendo algo que ninguém nunca tinha feito. Meu medo era grande, mas a vontade de superação e de melhoria para cada paciente era maior. Com o tempo os resultados começaram a aparecer e, com isso, consegui visualizar que independente da deficiência do paciente e suas limitações, quando se tem coragem, conhecimento e determinação tudo dá certo. Lembro-me de uma paciente cega que fui visitar em sua casa, onde fazia seu tratamento farmacológico de forma incerta. Criar um método, onde a mesma pudesse ter uma terapia farmacológica precisa foi desafiador, mas não impossível. Rapidamente padronizei tipos de cortes específicos para cada blister de medicação. Assim, a paciente saberia qual medicamento estava tomando através do corte e em seus respectivos horários, já que a mesma utilizava um rádio para verificar sempre os respectivos horários de administração das medicações. Sua adesão farmacológica foi bem-sucedida.


Gostaria que relatasse as dificuldades encontradas pelos pacientes para receber a medicação, seja em hospitais públicos ou privados, e até mesmo em casa.

R: Infelizmente dificuldade sempre irá surgir, independente de público ou privado. Acredito que a crise deixou muita gente limitada. Entendo a dor de cada um, mas também somos limitados referentes a muitas coisas, principalmente quando se fala em SUS. Creio que isso irá passar, que será apenas uma fase ou um momento.

Durante todo o seu percurso profissional, qual momento em seu ambiente de trabalho mais te emocionou? E qual a mensagem que você pode deixar para as pessoas que querem fazer o curso de farmácia e para aquelas que já exercem a profissão?

R: O que me emociona ate hoje é a importância de um profissional farmacêutico para a vida da população. Infelizmente nem todos pensam assim, mas a verdade é que somos uma peça de grande valor para a população, de uma forma geral e muito abrangente. Emociona-me saber que atitudes pequenas podem mudar a vida de uma pessoa, que um sol e uma lua riscados em um copo descartável podem trazer benefícios para um paciente.


A mensagem que eu deixo para os atuais estudantes de farmácia e amigos da profissão é: Sejam compromissados, estudem bastante, entendam seus valores como futuros e atuais farmacêuticos na vida das pessoas e da população que você será ou está inserido, e acima de tudo, valorize seus pacientes. O curso de farmácia é um mundo que só você irá decidir se irá viajar nele ou não. Faça a diferença por onde passar!

Avanildo deixa a mensagem que deve ser passada em qualquer área voltada para o campo da saúde. É preciso ter disciplina, conhecimento e audácia para enfrentar os desafios que são impostos durante a rotina do profissional. Assim, terá um atendimento eficaz para a população e poderá ir além das fronteiras, praticando a principal dose: um toque de amor.


Por Raquel Lima