Sinais de infecção tornam a aparecer em criança que estava em remissão

Médicos americanos fizeram ontem um pronunciamento que decepcionou a comunidade científica. Uma menina de 4 anos, que tinha sido dada como livre do HIV depois de uma nova abordagem terapêutica parece ainda estar infectada pelo vírus. Testes realizados na semana passada indicam que ela não está mais em remissão, e o vírus voltou a ser detectado.

Em março do ano passado, médicos anunciaram que, pela primeira vez, um bebê tinha sido curado funcionalmente do vírus causador da Aids. Nascida na zona rural do Mississípi, nos Estados Unidos, a menina foi tratada com medicamentos antirretrovirais cerca de 30 horas após vir ao mundo, algo que normalmente não é feito. No último mês de março, o suposto sucesso do tratamento foi divulgado com grande destaque, e o caso foi visto como uma possível revolução no protocolo terapêutico de recém-nascidos, já que cerca de 250 mil crianças nascem no mundo infectadas com o vírus a cada ano. Agora, no entanto, a notícia representa um revés nas esperanças de que o tratamento precoce de drogas possa reverter a infecção.

Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas nos EUA, Anthony Fauci lamentou os novos resultados e disse que terão implicações nos próximos estudos sobre HIV.

Certamente é decepcionante essa reviravolta, tanto para a criança quanto para a equipe médica envolvida e a comunidade de pesquisa do HIV — afirmou o pesquisador. — Vamos ter que dar uma boa olhada no estudo e ver se ele precisa de modificações.
A menina nasceu prematuramente em 2010, e sua mãe, infectada pelo HIV, não tinha recebido cuidado pré-natal. Depois do nascimento, a criança foi levada às pressas para o Centro Médico da Universidade do Mississípi, onde a médica Hannah Gay, especialista em HIV em crianças, ministrou-lhe um coquetel de três drogas antirretrovirais.

VÍRUS VOLTOU A SE REPLICAR

Depois de um ano e meio, os médicos interromperam o tratamento da menina. Quando ela retornou ao centro médico tempos depois, continuava livre do vírus. Entretanto, na última semana, descobriu-se a replicação. A criança está sendo novamente tratada com drogas anti-HIV, o que, provavelmente, deverá ocorrer pelo resto da sua vida.

Hannah Gay descreveu sua decepção como um "soco no estômago", segundo a agência de notícias Reuters. Para Anthony Fauci, por outro lado, o caso continua sendo válido, pois, segundo ele, mostra que o bebê de fato tinha sido infectado, o que chegou a ser posto em dúvida, e que o tratamento ajudou a prevenir a replicação do vírus pelo menos por um certo período. O médico tinha anunciado em maio planos de estudar outras crianças usando a mesma técnica, mas provavelmente voltará atrás nessa decisão.

A técnica já estava sendo aplicada num outro caso de um bebê infectado na Califórnia. Em março, médicos da criança anunciaram que ela estava sem traços do vírus havia nove meses. Mas, como continuava em tratamento, os especialistas evitavam dizer se estava curada.

Fonte: Globo