Uma nova vacina conjugada para a prevenção da meningite dos tipos A, C, W e Y, com uma dose a partir dos 12 meses de vida e sem limite de idade, acaba de ser aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na rede privada já há uma disponível para esses sorogrupos, mas ela é indicada apenas a partir dos 2 anos de idade.

O estudo clínico com crianças entre 12 e 23 meses de idade revelou eficácia de 99,7% da vacina para os sorogrupos A e C e de 100% para os sorogrupos Y e W-135. Os resultados também indicaram que a resposta imune se manteve alta após dois anos de vacinação para todos os sorogrupos.

— Os dados sobre a necessidade de renovação ainda não são conclusivos. Sabemos somente que, quanto mais tardia é a vacinação, pior — afirmou o pediatra Marco Aurélio Sáfadi.

A bactéria causadora da doença é transmitida pela secreção respiratória - ou seja, gotículas de saliva, espirro, tosse - e tem uma incubação muito rápida. Entre as possíveis consequências estão a surdez e a epilepsia. Em casos mais graves, o mal pode até ser fatal.

Sáfadi alerta que a prevenção pela aplicação da vacina deve ser iniciada o mais precocemente possível, já que a maior taxa de incidência é nas crianças, pela ausência de anticorpos.

Outros grupos que correm grande risco são os adolescentes — por estarem mais sujeitos a frequentar locais com grande aglomeração e por terem mais probabilidade de beijar na boca —, além de pessoas com problemas no sistema imune, como portadores de HIV e diabéticos.

Mas, para o pediatra, a principal vantagem da nova vacina é que ela oferece a possibilidade de expandir a proteção da doença meningogócica para todas as idades.

Viajantes aumentam circulação

No Brasil, 83% dos casos de meningite são decorrentes dos sorogrupos A,C, W e Y. De acordo com Sáfadi, que acompanhou os estudos e será responsável por dar a aula de apresentação da vacina aos médicos, o tipo C é o que mais tem casos registrados no Brasil. O tipo A não circula no momento, embora tenha havido épocas de incidência significativa. Já o W o e Y correspondem a cerca de 10% dos casos. Em 2012 foram notificados 21.321 casos de doença meningocócica pelo Ministério da Saúde.

— Também há que considerar o fator dos viajantes, já que, na Argentina e no Chile, o W é o responsável por 60% dos casos, ou seja,trata-se de um patógeno importante nesses países — explicou Sáfadi.

Nesse sentido, o diretor médico de Pesquisa e Desenvolvimento da área de vacinas da GSK Brasil — laboratório responsável pela novidade —, Rômulo Colindres, lembra que o país tem sediado grandes eventos internacionais e, num futuro próximo, irá receber as Olimpíadas, o que aumenta o risco da circulação local da bactéria. Assim, torna-se mais relevante prevenir a doença em diversos grupos etários.

No mercado europeu desde 2012, a vacina ainda aguarda aprovação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) quanto ao preço para a comercialização no país. Segundo Sáfadi, a vacina — que não teria apresentado eventos adversos importantes — já deve estar disponível na rede privada no próximo mês, "após alguns detalhes burocráticos". Para a rede pública, ainda não há previsão de entrada no calendário de vacinação.

— Ela passa a ser potencialmente considerada a partir do momento em que a epidemiologia mostra que esses sorogrupos se tornaram causas importantes da doença — explicou.

Febre e confusão mental

Desde 2010, a vacina contra a meningite C já se encontra no calendário público de vacinação. Os sintomas são fortes dores de cabeça, febre alta, pescoço rígido, confusão mental, dificuldade de concentração e mal-estar. Já nas crianças, que ainda não têm muita capacidade de expressão, os pais devem ficar atentos a gemência, irritabilidade, vômito e abaulamento da fontanela (aumento da moleira nos bebês).

Fonte: O Globo