O primeiro teste em humanos de uma nova terapia contra o HIV pode ser uma arma promissora no combate ao vírus. O tratamento, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Rockefeller (EUA), foi elaborado a partir do desenvolvimento de um anticorpo sintético, que provou ser altamente neutralizante.

Os pacientes injetados com o anticorpo, batizado de 3BNC117, tiveram a quantidade de HIV reduzida em até 300 vezes na corrente sanguínea. O anticorpo foi criado especificamente para bloquear a proteína receptora do vírus, já que a defesa criada naturalmente no sistema imunológico não é suficiente para derrotá-lo.

A redução drástica da presença do vírus foi mantida várias semanas após a injeção inicial em alguns pacientes. Acredita-se que o uso dos anticorpos sintéticos proporcionarão um tratamento alternativo para drogas antirretrovirais. Também é possível que eles sirvam de base para a criação de vacinas terapêuticas.

De acordo com os cientistas, a combinação dos anticorpos com fármacos já conhecidos será testada nas próximas etapas do estudo. A longo prazo, estimam, as pesquisas conseguiriam prevenir até a aparição da Aids.

— Um anticorpo sozinho, assim como um medicamento sozinho, não é suficiente para suprimir a carga viral durante muito tempo, porque logo surgirá uma resistência — explica a brasileira Marina Caskey, pesquisadora da Universidade Rockefeller e autora principal do estudo, publicado na revista Nature. — O que é especial nestes anticorpos é sua capacidade de atuar contra 80% das cepas do HIV.

Os testes mostraram que o 3BNC117 é efetivo no controle de 195 das 237 cepas do HIV — o que o classifica como "altamente neutralizante". Os participantes do experimento receberam doses diferentes do anticorpo. Oito receberam quantidades mais expressivas e, neles, a presença do HIV na corrente sanguínea foi reduzida em até 300 vezes. Em metade deles, o vírus permaneceu abaixo dos níveis iniciais após a conclusão do estudo, que durou oito semanas.

— A pesquisa nos mostra pela primeira vez que os anticorpos podem entrar no rol das terapias direcionadas contra o HIV — avalia Vincent Pighet, diretor do Instituto de Infecção e Imunidade da Universidade de Cardiff (Reino Unido), que não participou da pesquisa.

Com o desenvolvimento das cópias sintéticas do anticorpo e sua injeção em um estágio inicial da infecção, os pesquisadores esperam suprimi-la e facilitar seu controle com o auxílio de outros tratamentos, como drogas antirretrovirais.

— Diferentemente da terapia antirretroviral convencional, o tratamento à base de anticorpos pode envolver também as células do sistema imunológico do paciente, o que deve ajudar a neutralizar o vírus — explica Florian Klein, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Rockefeller.

Professor de Rockefeller, Michel Nussenzweig destaca as novidades do tratamento.

— Há duas diferenças. Uma é que ele surge do próprio corpo. Isso é natural. Outra é que ele abre a possibilidade de que o próprio sistema imunológico do paciente dê uma sacudida. Uma parte do organismo age como uma bandeira vermelha, mostrando onde o vírus está escondido e dando sinais de como ele pode ser morto.

Andrew Freedman, professor de Cardiff, também destaca os méritos do tratamento, mesmo que ele não seja autossuficiente.

— A terapia pode provar sua utilidade na combinação com outros tratamentos, como uma forma de melhorar o controle a longo prazo ou até mesmo curar a infecção do HIV. E também pode ser eficiente para prevenir a infecção contra o vírus, caso não haja vacinas disponíveis.

Fonte: O Globo