A Gilead Sciences, biofarmacêutica com sede nos Estados Unidos e forte atuação em medicamentos usados no tratamento da Aids e hepatite, está em negociações avançadas com o governo para oferecer um novo tratamento e cura da hepatite C. Foi justamente esse medicamento, com taxa de cura superior a 90%, o Sovaldi (Sofosbuvir), que alçou o laboratório californiano, conhecido globalmente por suas terapias de tratamento da Aids, ao grupo das maiores farmacêuticas em receita. Em 2014, o faturamento foi de US$ 24,9 bilhões.

De acordo com Norton Oliveira, vice-presidente da Gilead para América Latina e Caribe, o próprio Ministério da Saúde pediu urgência na aprovação do medicamento pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diante da combinação de inovação e custo oferecida pelo tratamento. Com a nova tecnologia, a expectativa é a de que o número de pacientes que recebem o tratamento triplique em relação aos 10 mil a 12 mil por ano atualmente.

"Na Gilead, os preços são definidos conforme o PIB Produto Interno Bruto per capita do país. Acreditamos que a inovação não pode estar disponível para apenas uma parte da população", disse o executivo, em entrevista ao Valor. A expectativa, já sinalizada pelo próprio governo, é a de que o Sofosbuvir, aprovado em março pela Anvisa, esteja disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) no segundo semestre.

O contrato, segundo Oliveira, será o primeiro firmado diretamente pela Gilead do Brasil. "Já fornecemos um antiviral o Tenofovir, mas o contrato é internacional. O objetivo de abrir um escritório no país foi justamente buscar novas oportunidades de negócio", acrescentou.

O primeiro escritório da Gilead na América do Sul, instalado em São Paulo, foi inaugurado em outubro. A farmacêutica americana já tinha planos de aterrissar no país há quase dez anos, mas o início da produção da cópia genérica do Tenofovir, droga de alto custo que é usada no tratamento da Aids, pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), de Minas Gerais, acabou adiando os planos.

Na região, contou o executivo, o tratamento da Aids, de hepatites virais e drogas contra o câncer estão no foco da farmacêutica, que pretende ampliar parcerias com parceiros locais e desenvolver medicamentos adequados à realidade do país.

Neste momento, há oito estudos clínicos em andamento por aqui. Até o fim do ano, a previsão é a de abertura de laboratório de controle de qualidade e de um armazém e centro de distribuição em Brasília, escolhida por ser a sede do governo brasileiro.

Em todo o mundo, o laboratório atua em seis áreas terapêuticas, incluindo doenças inflamatórias e respiratórias graves e quadros clínicos cardiovasculares, e seu portfólio é composto por 19 produtos comercializados, entre os quais o tratamento completo para infecção por HIV em pílula única e uma dose diária.

Conforme Oliveira, na composição de seus preços, além da análise do PIB per capita, a biofarmacêutica leva em conta a prevalência de determinada doença no país e a existência de programas de governo para enfrentar epidemias, o que pode determinar um comprador único do medicamento.

Fonte: Valor Econômico