Medicamentos de indicação animal estão sendo utilizados por seres humanos. Conforme vendedores de lojas veterinárias em Fortaleza, a prática é antiga. A maioria das pessoas que compram esses produtos para se automedicar não sabem o risco que correm.

Flávio Nogueira da Costa, professor do curso de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Fortaleza (Unifor) explica que o uso desses medicamentos pode causar desde reações alérgicas até o óbito.

De acordo com Eduardo de Oliveira, vendedor de uma loja veterinária, diariamente drogas de uso animal são vendidas para combater alguma enfermidade de humanos. Ele diz que há quem utilize, por exemplo, antitóxico animal para curar ressaca. Ferimentos são tratados, por alguns clientes, com o cicatrizante veterinário Ganadol.

O produto mais procurado, de acordo com o comerciante, é a pomada equina Calminex. Apesar de haver uma medicação semelhante voltada para os humanos, as pessoas continuam procurando o medicamento de uso veterinário.

Podemos incluir nessa gama suplementos de aminoácidos como, por exemplo, o Muscle Horse Turbo. Enquanto, aparentemente, as dosagens possam ser adaptadas para humanos, o que muita gente não sabe é que um aminoácido que essas fórmulas veterinárias possuem chamado DL-Metionina pode não ser utilizado de forma correta no organismo humano e causar forma severa de alergia.

Na opinião de Edvar Carvalho, proprietário de uma loja desse ramo, os consumidores acreditam que a pomada para cavalos surte efeito mais rápido. Todavia, ele garante que não vende o produto, caso saiba que não será utilizado em bichos. "O organismo do animal é diferente do humano", justifica.

Entretanto, pelo menos em outros estabelecimentos, até mesmo cosméticos indicados aos animais são comercializados para serem usados pelo homem. Eduardo de Oliveira diz que algumas pessoas utilizam, por exemplo, o xampu canino Paroxydex. "Elas acreditam que o produto combate caspa", explica Eduardo.

No entanto, Flávio Costa ressalta que medicamentos veterinários de uso tópico podem causar reações alérgicas, quando aplicados em humanos. Já a professora-doutora Maria Cristina da Silva, que leciona na Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, afirma que alguns produtos veterinários não apresentam "tanta restrição ao uso humano".

A professora explica que algumas pomadas cicatrizantes de uso animal são aplicadas em homens e vice-versa. Mas ela ressalta que as pessoas "devem ter muita cautela na utilização de produtos veterinários".

A ingestão de medicamentos indicados para animais, segundo o professor Flávio Costa, pode provocar problemas estomacais, renais e hepáticos. Ele alerta que a administração intramuscular ou intravenosa dessas drogas corre o risco de provocar, por exemplo, choque anafilático ou levar o usuário à morte.

Fonte: Farmacêutica Curiosa