A apneia é caracterizada por paradas frequentes de respiração enquanto a pessoa dorme. A interrupção respiratória — que, em casos graves, pode chegar a um minuto — acaba por comprometer outros sistemas do corpo. Há uma ligação entre o distúrbio e problemas no coração, mas os mecanismos envolvidos entre as duas complicações ainda são pouco conhecidos. Em busca de entender melhor esse vínculo, cientistas dos Estados Unidos e da Holanda analisaram células de pacientes com apneia e descobriram uma substância associada tanto ao problema do sono quanto aos cardíacos. Detalhes do trabalho foram divulgados na edição de hoje da revista Science Translational Medicine.

No experimento, os cientistas usaram células que revestiam o interior dos vasos sanguíneos de pessoas com apneia. Pela análise laboratorial, observaram que os voluntários que apresentavam a desordem do sono tinham quantidades maiores da proteína CD59 — substância que protege as células endoteliais — no interior delas, em vez de na superfície. Essa característica faz com que as células se tornem mais vulneráveis a inflamações vasculares.

Uma sondagem mais aprofundada indicou que os voluntários que ingeriam estatinas (um grupo de medicamentos bastante prescrito para tratar o colesterol alto) mantinham os níveis normais de CD59 mesmo sofrendo as crises de apneia do sono. "O aumento da internalização de CD59 pareceu ser bloqueado pelo uso de estatinas, sugerindo, assim, um efeito protetor adicional aos pacientes", destacaram os pesquisadores do University Medical Center em Amsterdã, no estudo divulgado na revista científica. Os cientistas também destacaram no texto que mais pesquisas são necessárias para comprovar a descoberta e o possível uso de estatina para ameninar os efeitos cardíacos da apneia do sono.

Alta incidência

A estimativa é de que um quarto dos adultos ocidentais sofram de apneia, que é dividida em três tipos. A mais comum, chamada apneia obstrutiva do sono, é provocada por uma obstrução na garganta ou nas vias respiratórias superiores. Tem maior incidência nas pessoas obesas e nas que dormem de barriga para cima. Menos comum, a apneia central do sono ocorre em consequência de uma disfunção no tronco cerebral, parte do cérebro que controla a respiração. Rara, a combinação das duas apneias resulta no que os médicos chamam de apneia mista do sono.

Os autores do novo estudo sobre o distúrbio do sono alertam que ele triplica o risco de hipertensão, acidente vascular cerebral e outras doenças do coração. Conforme o Manual Merck de informação médica, o risco de morte aumenta quando os episódios de apneia são superiores a 20 por hora de sono.

Fonte: Conselho Federal de Farmácia