Fitoterápico

Um composto extraído da folha do jaborandi (Pilocarpus microphyllus) mostrou-se eficaz contra as formas jovem e adulta do parasita Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose.

O composto, denominado epiisopiloturina, foi submetido a testes pré-clínicos e de estabilidade química por Ana Carolina Mafud, da USP de São Carlos (SP), em parceria com uma equipe da Universidade Federal do Piauí (Biotec-UFPI) e do Instituto Adolfo Lutz (IAL).

"Em parceria com o SUS [Sistema Único de Saúde], estamos avaliando a eficácia e a segurança de usar o composto como um fitoterápico. Também existe a possibilidade de criar versões sintéticas da molécula com pequenas modificações e ação potencializada, o que seria mais interessante para a indústria farmacêutica", contou Ana Carolina.

Resíduo valioso

A empresa Centroflora, instalada no Piauí, faz a extração em larga escala de uma outra substância da folha do jaborandi, a pilocarpina, usada no tratamento do glaucoma.Mas o processo industrial gera uma grande quantidade de resíduos, e foi tentando encontrar uma utilização para esse resíduo que os pesquisadores identificaram o potencial da nova substância para combater a esquistossomose.

"Assim como a pilocarpina, a epiisopiloturina também é um alcaloide. Ambos têm estruturas parecidas, mas a ação biológica é diferente", explicou Ana Carolina.

A principal droga atualmente usada no controle da esquistossomose, o praziquantel, só tem eficácia contra vermes adultos e, embora melhore o quadro, não consegue promover a cura completa ou interromper o processo de transmissão. Outras desvantagens do praziquantel são a alta toxicidade para o fígado e o fato de não apresentar formulação pediátrica, dificultando o tratamento de crianças - principal faixa etária atingida pela doença.

A única desvantagem é que, para ter efeito, a epiisopiloturina precisa ser administrada em dose bem mais alta (150 mg/kg) que o praziquantel (5 mg/kg), o que não a torna atraente para a indústria farmacêutica.No momento, os pesquisadores estão testando no IAL um tratamento com doses mais baixas e duração de dez dias, ainda em cobaias.

Esquistossomose

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquistossomose afeta quase 240 milhões de pessoas, sendo a verminose que mais mata no mundo. Mais de 700 milhões de pessoas vivem em áreas endêmicas, localizadas principalmente em regiões tropicais e subtropicais, em comunidades carentes sem acesso a água potável e saneamento adequado.

Na fase aguda da doença, os infectados podem apresentar coceiras e dermatites, febre, inapetência, tosse, diarreia, enjoos, vômitos e emagrecimento. Na fase crônica, episódios de diarreia podem alternar-se com períodos de prisão de ventre.

A doença pode evoluir para um quadro mais grave com aumento do fígado (hepatomegalia) e cirrose, aumento do baço (esplenomegalia), hemorragias provocadas por rompimento de veias do esôfago e barriga d'água (abdome proeminente pelo escape de plasma do sangue).

Fonte: Farmacêutica Curiosa